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China e UE apostam em navegação mais verde para reduzir emissões

A trilionária indústria da navegação global poderá em breve ser forçada a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa devido às novas regras apoiadas pela União Europeia e pela China.

Mais de 200 representantes se reuniram nesta semana na Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), a agência da Organização das Nações Unidas que supervisiona a navegação, com sede em Londres, para discutir regras que poderiam transformar o setor, atualmente responsável por 3 por cento das emissões mundiais, em uma operação com emissão zero de carbono na segunda metade do século.

A mudança em direção à energia limpa foi motivada pelo Acordo de Paris para mudanças climáticas e também pela ameaça das normas regionais estudadas pela UE e testadas na China. A Europa propôs um plano para adicionar as emissões dos navios ao seu sistema de comércio até 2023 se as negociações na IMO não avançarem. A China realiza um programa piloto similar englobando o porto de Xangai e a indústria da navegação.
A proposta da UE “estabelece um prazo para que a IMO apresente uma meta e medidas”, disse Sotiris Raptis, assessor sênior da Organização Europeia dos Portos Marítimos e ex-assessor parlamentar da UE. “Mas trata-se de uma indústria global, é difícil regular emissões geradas fora da jurisdição.”

A imposição de regras para as emissões eliminaria uma lacuna deixada pelo Acordo de Paris para as mudanças climáticas, de 2015. Os motores dos navios quase sempre queimam óleo combustível pesado, uma das formas mais sujas e baratas de energia. Os membros da IMO voltarão a discutir suas estratégias e objetivos em outubro. O rascunho de um acordo pode vir a ser elaborado em 2018 e implementado em 2023.

“Estamos vendo disposição dos delegados para discutir os problemas”, disse Edmund Hughes, chefe de poluição atmosférica e eficiência energética da IMO.

As vozes mais críticas nas negociações são as dos pequenos países do Pacífico, como as Ilhas Marshall, as Ilhas Salomão e Kiribati, que estão entre os mais vulneráveis ao aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas. Algumas ilhas podem ser submergidas pela água já na próxima década, o que as levou a formar uma coalizão com alguns países da UE para pedir regras rígidas para as emissões à IMO.

“O setor precisa urgentemente intensificar seus esforços”, disse Mike Halferty, ministro dos Transportes das Ilhas Marshall, país sob cuja bandeira está registrada a maioria dos navios. “Se a navegação internacional fosse um país, teria a sétima maior emissão do mundo.”

China e Índia

A China e a Índia, que têm as duas maiores populações do mundo, apresentaram um documento conjunto em apoio à mudança para uma navegação com menor emissão de carbono. Segundo o plano, os países seriam livres para criar planos individualizados de redução das emissões.

Países produtores de petróleo como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos enfatizaram que seria necessário fechar um compromisso, segundo declarações feitas na quarta-feira que sinalizaram falta de disposição para um acordo rápido sobre as medidas propostas. Delegados de países sul-americanos como Argentina e Chile afirmaram que os impactos de custo do comércio de longo curso com portos geograficamente remotos precisam ser considerados.

Fonte: Bloomberg News

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Índia figura entre os países-alvo de ação mais agressiva de promoção comercial do Brasil

A Índia integra o seleto grupo de quatro países e blocos econômicos (os demais são os Estados Unidos, União Europeia e a China) junto aos quais o governo brasileiro pretende implementar uma ação agressiva no esforço de ampliar as exportações brasileiras para grandes mercados.

E talvez em nenhum deles o Brasil realmente necessite tanto de reforçar sua presença, utilizar recursos de inteligência comercial e encontrar meios de recuperar o terreno perdido especialmente em 2016, quando tanto as exportações brasileiras quanto as vendas indianas desabaram e devem fechar o ano próximas do nível registrado em 2009.

O ano de 2014 constitui um marco na história do intercâmbio comercial brasileiro-indiano. Naquele ano, o fluxo de comércio bilateral atingiu o recorde histórico de US$ 11,429 bilhões, com exportações brasileiras no montante de US$ 4,778 bilhões (alta de 52,99% sobre 2013) e vendas indianas no total de US$ 6,640 bilhões (aumento de 4,45% sobre o ano anterior). Naquele ano, a Índia foi o destino final de 2,13% das exportações totais do Brasil e forneceu ao país 2,90% de todo o volume importado pelas empresas brasileiras. Em 2014, a balança comercial bilateral proporcionou à Índia um superávit de US$ 1,852 bilhão.

Após atingir números recordes em 2015, o fluxo de comércio entre os dois países entrou em forte declínio no ano seguinte, quando as exportações brasileiras despencaram -24,46% para US$ 3,617 bilhões e as vendas indianas experimentaram um recuo ainda mais expressivo de -35,4% e somaram US$ 4,290 bilhões, gerando um saldo em favor da Índia no total de US$ 672 milhões. Com exportações e importações em queda, também cairam a participação da Índia como destino das exportações brasileiras (1,8%) e nas importações (2,50%).

E se os números de 2015 já não eram motivo para comemoração, em 2016 o comércio bilateral enfrenta uma queda bem mais aguda. De janeiro a agosto as exportações brasileiras tiveram uma forte queda de -24,32% e somaram pouco mais de US$ 1,782 bilhão. Na outra ponta, as vendas indianas levaram um tombo ainda maior e despencaram impressionantes -47,54% e totalizaram US$ 1,592 bilhões.

E a exemplo do que vem acontecendo nos últimos anos, também em 2016 registra-se uma importante queda na participação da Índia como parceiro comercial do Brasil. Nos oito primeiros meses do ano, a Índia importou apenas 1,44% de todo o volume exportado pelo Brasil e forneceu apenas 1,75% de todo o volume importado pelo Brasil. Com esses números, a Índia figurou em décimo-quarto lugar entre os principais mercados para os produtos brasileiros no exterior e em décimo-segundo lugar entre os maiores abastecedores do mercado brasileiro.

Apesar dos números declinantes, a Índia é, inegavelmente, um dos mercados mais receptivos aos produtos brasileiros no exterior. E entre os grandes parceiros comerciais, poucos países se mostram tão abertos à importação de bens semimanufaturados e industrializados brasileiros como a Índia.

No período, 47,4% das exportações foram de semimanufaturados, no total de US$ 844 milhões (alta de 5,7% sobre igual período do ano passado). Enquanto isso, os embarques de produtos industrializados teve uma participação de 18,4% no volume exportado e geraram uma receita de US$ 329 milhões (queda de 15,8% em relação ao período janeiro/agosto de 2015). Por sua vez, a receita obtida com a venda de produtos básicos (participação de 34,1% nas vendas totais) somou US$ 608 milhões (com uma forte retração de 47,8% em comparação com idêntico período de 2015).

Enquanto a pauta exportadora brasileira apresenta equilíbrio entre as categorias de produtos, a relação dos produtos exportados pela Índia para o Brasil é marcada por uma forte concentração nos produtos industrializados, de maior valor agregado. De janeiro a agosto , apesar de registrarem uma queda expressiva de 48,3%, esses itens foram responsáveis por uma receita no valor de US$ 1,52 bilhão, correspondentes a 95,4% de todo o volume negociado com o Brasil.

Por sua vez, a participação dos produtos semimanufaturados e básicos foi praticamente marginal: respectivamente US$ 45 milhões, correspondentes a apenas 2,82% das exportações e US$ 28 milhões, equivalentes a apenas 1,78% de todo o volume exportado pela Índia para o Brasil.

Apesar dos números declinantes, analistas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mostram confiança em que as perspectivas de retomada do fluxo de comércio com a Índia é questão de tempo e que números positivos devem ser alcançados já a partir de 2017.

Para que isso aconteça, esses analistas consideram importante o fato de a Índia figurar entre os países junto aos quais o Brasil buscará implementar uma política mais agressiva visando identificar novas oportunidades de negócios e aumentar o fluxo comercial.

Segundo a Apex-Brasil, “uma via importante para alcançar esse objetivo será convencer as empresas brasileiras a buscar uma maior presença no mercado indiano (assim como também nos Estados Unidos, na União Europeia e na China), seja por meio da instalação de subsidiárias, de associações com empresas locais ou mesmo de franquias”.

Essa é corroborada pelo embaixador Rodrigo Azeredo (diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério das Relações Exteriores e futuro embaixador do Brasil no Irã), para quem “existem iniciativas para os grandes mercados, como o indiano, mas falta a definição de ações mais abrangentes para o desenvolvimento de parcerias”.

No governo brasileiro existe a consciência de que um número importante de empresas nacionais já se internacionalizaram há alguns anos, mas ainda assim esse número não é suficiente e precisa ser ampliado: “investir e produzir localmente é uma estratégia mais duradoura de relação comercial”, sinaliza o embaixador Azeredo. Esse raciocínio se aplica plenamente num mercado com as dimensões, a diversidade e as peculiaridades do mercado indiano.